SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar reverteu perdas e voltou a rondar a casa dos R$ 6 nesta quinta-feira (12), um dia depois do Copom (Comitê de Política Monetária) decidir sobre a taxa básica de juros do país, a Selic.
O comitê do BC (Banco Central) optou por um aumento agressivo de 1 ponto percentual, levando a taxa ao patamar de 12,25% ao ano. A decisão foi unânime. O movimento era esperado pelo mercado, ainda que parte dos agentes econômicos tenha apostado em um aperto menor, de 0,75 ponto.
Às 14h24, a moeda norte-americana subia 1,04%, cotada a R$ 6,032. A divisa engatou o dia em forte queda e chegou a bater R$ 5,867 na mínima da sessão, mas virou para alta no início da tarde.
Já a Bolsa, no mesmo horário, desabava 2,44%, aos 126.425 pontos, com praticamente todas as empresas da carteira teórica do Ibovespa no negativo.
No comunicado, o colegiado do BC antecipou um choque de juros, prevendo mais dois aumentos de mesma intensidade nas próximas reuniões, de janeiro e março, o que levaria os juros a 14,25% ao ano.
"Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões", disse.
A decisão marca a despedida de Roberto Campos Neto do comando do colegiado do BC. A partir de janeiro de 2025, o posto será ocupado por Gabriel Galípolo -nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"É um belo choque, um belo aperto monetário. O mercado vinha preocupado com a atuação do BC, temendo que ele pudesse ser mais contido. Mas ele atuou na conta-erro que foi deixada em aberto pela má atuação do governo na questão fiscal. O ajuste se dará pelos juros. Não fosse o caso, se daria no câmbio e na inflação, o que seria muito pior para a economia no longo prazo", avalia Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Em resposta, as curvas de juros futuros passam por ajustes firmes nesta sessão. Por conta da alta volatilidade, as negociações do Tesouro Direto ficaram suspensas por algumas horas nesta manhã.
Destaque para a forte alta dos contratos de curto prazo, que acomodam agora perspectivas de mais apertos monetários nas próximas reuniões. O DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 avançava para 14,59%, ante 14,27% do ajuste anterior. O de janeiro de 2027, um dos mais líquidos, previa a Selic em 14,67%; na véspera, era 14,49%.
O BC ainda fez duas novas intervenções no câmbio nesta quinta, com a realização de dois leilões de dólares com oferta total de US$ 4 bilhões. Segundo a assessoria de imprensa da autarquia, todo o montante foi vendido.
Mas o dólar não se sustentou no negativo por muito tempo. "Temos outros fatores em jogo, como a questão fiscal e agora a saúde do presidente [Lula] que podem trazer volatilidade para os ativos brasileiros", pondera Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.
O presidente passou por um novo procedimento médico nesta quinta-feira para interromper o fluxo de sangue em uma região de seu cérebro. O objetivo é impedir novos sangramentos como o que ele sofreu nesta semana.
"[A intervenção foi realizada] com sucesso", limitou-se a dizer o cardiologista Roberto Kalil, médico do petista. Segundo ele, o procedimento durou cerca de uma hora, Lula está acordado e conversando, e às 10h os médicos da equipe irão apresentar mais detalhes à imprensa.
Segundo analistas de mercado, o anúncio do procedimento levou o dólar a despencar na véspera. A reação também apareceu na Bolsa, que subiu mais de 2% na esteira da notícia
"Não há outra explicação para este movimento, mesmo com [a reunião do] Copom. O mercado começa a especular que o pacote de corte de gastos pode ser aprovado com o Lula afastado. Se o Alckmin fica no lugar dele, fica mais fácil de liberar esse pacote. Além disso, se discute quanto tempo o vice ficaria na presidência", diz Vanei Nagem, sócio-diretor da Pronto Invest.
Banqueiros, estrategistas e gestores ainda afirmam que o rebuliço no mercado também se deve à expectativa de que o presidente Lula não terá condições de disputar a reeleição.
Dois banqueiros ouvidos não quiserem comentar abertamente por respeito à situação pessoal do presidente. Disseram, no entanto, que a fragilidade de Lula mobiliza o mercado já na expectativa de que ele não terá condições de sair em campanha, algo que abre espaço para um próximo governo.
A previsão é que o presidente tenha alta no início da próxima semana.
Com isso, o foco voltou à cena fiscal, em meio à tramitação atribulada do pacote de contenção de gastos do governo no Congresso Nacional.
O Executivo está empenhado em aprovar as medidas ainda neste ano, mas encontra revés na liberação de emendas parlamentares, instrumento no centro do mal-estar com o Legislativo.
Na terça, o governo publicou na uma portaria detalhando procedimentos e prazos para a liberação de emendas. Ainda assim, lideranças parlamentares ouvidas pela reportagem admitem que a chance de votação do pacote diminuiu diante da avaliação de que há temas espinhosos entre as medidas que demandam mais tempo de discussão. Entre os descontentes, a própria bancada do PT.